“Ser mulher é perigoso. É inseguro, arriscado. Ser mulher é sentir medo. E sentir culpa. Porque, se o tema é a interrupção da gestação, a escolha não é nossa. Mas caso a mão indesejada passe pela nossa perna no ônibus, aí nossas escolhas importam: o tamanho da nossa saia, o jeito que a gente senta, a hora que escolhemos voltar pra casa. Somos seres menos livres.”
“O Enem colocou um texto da filósofa Simone de Beauvoir, de 1949: ‘Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino’. O texto não é uma novidade ou uma controvérsia. É um texto histórico, que relembra o óbvio: a construção do feminino é um processo dado pela civilização. Houve grita na internet. Vários falam hoje de uma onda conservadora; mas vejo uma onda de estupidez apenas. Quem reclamou não leu, não inseriu no contexto, não aprofundou. Não é apenas conservadorismo: é burrice declarada. Dá para debater com gente conservadora, pois vários conservadores do passado eram brilhantes: Burke, Tocqueville etc. Mas não dá para discutir com gente tapada e que se orgulha da estupidez. Com esse grau de atualização filosófica, em breve essa malta vai gritar contra Newton na prova…”
“Alguns suspeitam que a depressão contemporânea seja uma invenção. Uma vez achado um remédio possível, sempre é preciso propagandear o transtorno que o tal remédio poderia curar. Nessa ótica, a depressão é um mercado maravilhoso, pois o transtorno é fácil de ser confundido com estados de espírito muito comuns: a simples tristeza, o sentimento de inadequação, um luto que dura um pouco mais do que desejaríamos etc. De qualquer forma, o extraordinário sucesso da depressão e dos antidepressivos não existiria se nossa cultura não atribuísse um valor especial à felicidade (da qual a depressão nos privaria). Ou seja, ficamos tristes de estarmos tristes porque gostaríamos muito de sermos felizes. Coexistem, na nossa época, dois fenômenos aparentemente contraditórios: a depressão e a valorização da felicidade. Será que nossa tristeza, então, não poderia ser um efeito do valor excessivo que atribuímos à felicidade? Quem sabe a tristeza contemporânea seja uma espécie de decepção.”
– Saudades?
– Muita.
– Do que exatamente?
– Da tua ausência.
Quem de fato nos mata:
1. O bacon, a salsicha e a linguiça?
2. As indústrias, lojas e agências publicitárias que os produzem, comercializam e propagandeiam?
3. Os cientistas, que periodicamente elegem novos vilões gastronômicos e nos deixam ainda mais estressados?
“A advogada Beth Mange, que foi a manifestações contra o governo federal na Paulista, culpa Dilma e Lula pela crise e diz que se sente prejudicada. ‘Se antes comprava um presente de R$ 800, agora compro de R$ 300. Não sei até quando vou conseguir agir assim’, afirma, enquanto passeia na rua Oscar Freire.”
Gutto tinha apenas 3 anos e já frequentava a escola. Era uma instituição construtivista, que se orgulhava de proporcionar muita liberdade para os pequenos alunos. Certa manhã, a professora sugeriu à classe de Gutto desenvolver projetos pessoais. Cada estudante decidiria o que fazer em aula e passaria uns dias se dedicando àquela atividade. Gutto escolheu cavar um buraco perto do muro que separava o pátio e a rua. Ficou muitíssimo entretido na tarefa, o que chamou a atenção da professora. Quando o buraco exibia um tamanho considerável, ela finalmente lhe perguntou por que resolveu abri-lo. “Não percebeu ainda, professora? Estou tentando fugir da escola.”
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